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Pequeno Estudo da Liturgia da Santa Missa

Uma Contribuição para Leigos e Clerigos Compreender e Celebrar melhor a Santa Missa

Padre Antonio Piber

Introdução

"Que os homens nos considerem, pois, como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel" (1Cor 4, 1,2).

Os comentários propostos aqui, não são definitivos. Nada o é. Só Deus e Seu Amor. Mas são sugestões para que você, junto com aquilo que você já sabe, com sua experiência, com seus estudos, viva a Liturgia de fato como o cume de toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a sua força. Ficarei feliz e grato se você completar o que falta neste Pequeno Estudo.

Existem outras maneiras de se celebrar a Santa Missa, mas elas não são a meta deste Pequeno Estudo.

A valorização da Liturgia é uma questão de fé. Celebramos com fervor porque nossa fé é ardente. A Liturgia não é um protocolo para as recepções do Senhor nem um código de boa educação ou regras de etiqueta. Naturalmente que isto tudo têm seu valor, mas podem se situar à margem e aquém da piedade. Nos Prefácios encontrados no Missal percebemos que a Igreja se associa aos anjos para adorar ao Deus Três Vezes Santo, por isso não confundimos, neste Estudo, Liturgia com rubricas e regras.

O que temos observado é que, geralmente, quem percebe a Liturgia como o momento especial para externar a glorificação a Deus, de buscar cura e libertação e também que e uma festa comunitária, a Celebração do Senhor entre e com os Seus, que vem para salva-los, e que a celebra com piedade e devoção, é uma pessoa empenhada, consequentemente, com o ecumenismo, a libertação e a inclusão e compreende que “o Reino de Deus é paz, justiça e alegria”, como nos indicou São Paulo (Rm 14,17).

Pretendemos, com este Pequeno Estudo, estudar a herança de Dom Carlos Duarte Costa dentro da fé católica que é nossa herança e ao mesmo tempo possibilitar uma maior e melhor participação de todas as pessoas, com a intenção de que nossa Assembleia seja uma comunidade de oração. Para isso proponho este Pequeno Estudo e um caminhar para o futuro e para não se desviar, olhamos para as Sagradas Escrituras e a Tradição dos Padres, dentro da catolicidade e da ortodoxia da Igreja de Jesus Cristo na realidade em Deus mesmo nos situa e quer que demos frutos para o Reino enquanto testemunhamos o Evangelho.

Não entendo quando alguns falam em “liturgia tradicional”, “liturgia moderna”, ou o absurdo da “liturgia para o homem do século XXI”, entendo de somenos as expressões “missa de sempre”, “missa nova”; não há, na Igreja, formas “atuais” ou “ultrapassadas” de orar, de encontrar-se com o Senhor e comemorar este encontro na comunidade de fé, pois a anáfora da Tradição Apostólica de Santo Hipólito foi composta em Roma, no começo do século III e continua atual, enquanto algumas celebrações “modernas” são vazias de beleza, de sentido, de teologia, de enculturação, de piedade e de manifestação da fé. O ideal da Liturgia não é de ser de um século ou de uma nação, mas de ser cristã, isto é, de ser a expressão da fé da Igreja, que é de todos os tempos, de todos os lugares e de todas as culturas, por isto é Católica. São Cipriano afirma que a Igreja enquanto “povo de Deus reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é sacramento da comunhão Trinitária” (De oratione dominica, 23:PL4,553). Percebemos, às vezes, “movimentos progressistas”, ou “movimentos conservadores”, ambos fazem, creio, com que desapareçam os tesouros da Tradição, que é sempre celebrar com o povo e como o povo de Deus; é equivocado entender-se como “povo de Deus” este ou aquele segmento social. Se há, e há, tesouros que deveriam ser recuperados, deve ser recuperado principalmente o sentido sagrado da Liturgia, a percepção de que a Liturgia não é uma coisa nossa que nós fabricamos, que podemos compor e recompor segundo os nossos gostos passageiros, mas é algo que se recebe, que nos é doado pelo Espírito Santo no conjunto do Povo de Deus e na sua experiência de Deus na caminhada da fé. Portanto as objetividades das reformas litúrgicas têm a sua importância. Conhecer as tradições litúrgicas, os símbolos, resgatar a beleza e a dignidade do culto e, o que é mais importante, a sacralidade e o sentido da Liturgia, isto sim tem, a meu ver, importância e é urgente na vida de cada um dos cristãos.

É importante ressaltar a importância das manifestações artísticas na celebração. A arte deve favorecer e acentuar o sentido do sagrado; o senso artístico deve educar para a harmonia do rito, das vestes litúrgicas, da decoração e do espaço sagrado. Igualmente importante para uma correta arte da celebração é a atenção a todas as formas de linguagem previstas pela liturgia: palavra e canto, gestos e silêncios, movimento do corpo, cores litúrgicas dos paramentos. Com efeito, a Liturgia, por sua natureza, possui tal variedade de níveis de comunicação que lhe permitem cativar as pessoas na sua totalidade: crianças, jovens, adultos, idosos, ricos, pobres, instruídos, iletrados... A simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas e extravagantes. A atenção e a obediência à estrutura própria do rito, ao mesmo tempo em que exprimem a consciência do caráter de Dom da Eucaristia, manifestam a vontade que o Ministro tem de acolher, com dócil gratidão, esse Dom inefável.

A profunda ligação entre a beleza e a Liturgia deve levar-nos a considerar atentamente todas as expressões artísticas colocadas ao serviço da Celebração. Um componente importante da arte sacra é, sem dúvida, a arquitetura das igrejas, nas quais há de sobressair a coerência entre os elementos próprios do presbitério: altar, crucifixo, sacrário (quando não se tem a Capela do Santíssimo), ambão, cadeira. A este respeito, tenha-se presente que a finalidade da arquitetura sacra é oferecer à Igreja que celebra os mistérios de fé, especialmente a Eucaristia, o espaço mais idôneo para uma condigna realização da sua ação litúrgica; de fato, a natureza do templo cristão define-se precisamente pela ação litúrgica, a qual implica a reunião dos fiéis, que são as pedras vivas do templo (cf. 1Pd 2,5).

O mesmo vale para toda a arte sacra em geral, especialmente para a pintura e a escultura, devendo a iconografia religiosa ser orientada para a mistagogia sacramental. Um conhecimento profundo das formas que a arte sacra conseguiu produzir, ao longo dos séculos, pode ser de grande ajuda para quem tenha a responsabilidade de decorar o espaço da ação litúrgica; por isso, é indispensável que, na formação dos Seminaristas e dos Sacerdotes, se inclua, entre as disciplinas importantes, a História da Arte com especial referencia a arte sacra à luz das normas litúrgicas. As manifestações da arte popular contém muito da “alma” da liturgia católica celebrada na Igreja Católica. Importa que, em tudo quanto tenha a ver com a Eucaristia, haja gosto pela beleza; dever-se-á ter respeito e cuidado também pelos paramentos, alfaias e os vasos sagrados, para que, interligados de forma orgânica e ordenada, alimentem o enlevo pelo Mistério de Deus, manifestem a unidade da fé e reforcem a devoção.

Na arte da celebração, ocupa lugar de destaque o canto litúrgico. Santo Agostinho afirma “O homem novo conhece o cântico novo. O cântico é uma manifestação de alegria e, se considerarmos melhor, um sinal de amor” (Sermo 34,1:PL38,210.127). O povo de Deus, reunido para a celebração, canta os louvores de Deus. Na sua história bimilenária, a Igreja criou, e continua a criar, música e cânticos que constituem um patrimônio de fé e amor que não se deve perder. Verdadeiramente, em Liturgia, é necessário evitar a improvisação genérica ou a introdução de gêneros musicais que não respeitem o sentido da Liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração; tudo, no texto, na melodia, na execução, deve corresponder ao sentido do Mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos.

A Liturgia é a celebração da economia da salvação, isto é, da ação de Deus no mundo e não a glorificação das realidades humanas, por mais respeitáveis que estas sejam. A Liturgia é a expressão da fé na oração pública, comunitária, a Liturgia é a Teologia do povo de Deus praticada.

Com este Pequeno Estudo, buscamos conhecer para amar, buscamos unidade na diversidade, como membros da Igreja Católica, pois somos livres justamente para compreendermos e amarmos, valorizando, nas mais variadas celebrações da comunidade paroquial onde a Misericórdia do Senhor Bom Pastor, se manifesta, caminhando conosco, mas ao mesmo tempo nos conduzindo, e um dia nos encontraremos para a Eterna Liturgia no céu, realidade futura esta, que a Liturgia da Missa e dos outros Sacramentos é antecipação, mas opaca antecipação.

Sejamos autênticos membros fieis da Igreja de Jesus Cristo, a Igreja que Ele fundou sobre a fé de Pedro e dos outros Apóstolos, e da qual Jesus Cristo mesmo é Única Cabeça e Pastor e Guarda (cf. 1Pe 2,20-15) e nós somos Seus membros (cf. 1Cor 6,27), sejamos autênticos membros da Igreja Católica e Apostólica, celebrando a Sagrada Liturgia da Santa Missa e dos Sacramentos, segundo o Rito Próprio, esta riqueza que a Tradição nos legou, que é a expressão sempre atual da herança da fé Católica Revelada e orientada pelo Espírito Santo de Deus.

O Bispo é sempre o Mestre da liturgia em sua Diocese e deve considerar como seu primeiro dever e direito celebrar a Sagrada Liturgia. A celebração da Missa é a ação de Cristo e do Povo de Deus hierarquicamente ordenada em relação ao Bispo, que e o guardião da Tradição Apostólica, pois onde ele esta, esta a Igreja (Santo Inacio, ad Pol), ela é o centro de toda a vida cristã tanto para toda a Igreja universal, quanto local, bem como para a vida de todos os cristãos e de todas as cristãs, da humanidade inteira e de toda a natureza criada. É por isso que dispomos a celebração da Santa Missa de tal forma que todos os que delas participem (Ministros e fiéis), cada um conforme a sua condição e ministério ou serviço ao Povo de Deus, recebam mais plenamente os frutos que o Cristo Senhor quer prodigalizar ao instituir a Santa Eucaristia de Seu Corpo e Sangue, confiando-o a Sua Igreja, como memorial de Sua Encarnação, Paixão e Ressurreição, Mistério da fé. Isto se conseguirá adequadamente se, levando em conta a natureza e as circunstancias de cada assembleia, toda a celebração for disposta de tal modo que leve os e as fieis à participação consciente, ativa e plena do corpo e do espírito, animados pelo fervor da fé, da esperança e da caridade. Esta participação é exigida dada a natureza da celebração. Todo o batizado e toda a batizada têm o direito e o dever de participar ativamente dos Mistérios instituídos por Cristo e entregues à Igreja. Queremos formar uma comunidade de fé e de adoração, uma comunidade litúrgica, que ora e celebra unida. O êxito ou o fracasso de uma comunidade começa aí, quando não conseguimos nos expressar com nossa identidade própria, quando não conseguimos compreender o que celebramos, não nos comprometemos conscientemente da pertença à Igreja Católica, com adesão de corpo e alma. Só uma evangelização, catequese, pastorais e testemunho, que façam com que cristãos e cristãs descubram nela a razão de se reunirem, poderá fundamentar a assembleia eclesial e distingui-la das demais reuniões com os mais variados objetivos. Aprouve a Deus santificar e salvar os homens e as mulheres não isoladamente com exclusão, mas como um povo que O reconhece na verdade para servi-lo santamente. A Missão de Jesus Cristo e do Espírito Santo realiza-se na Igreja e para ela, a Sua Missão, Jesus Cristo quer associar todos os homens e todas as mulheres que lhe são fiéis.

Tudo deve começar pela base, pela consciência do Padre e do Bispo. O ato de celebrar supõe pessoas reunidas e um mínimo de organização. Sem participação comprometida, a Liturgia reduz-se a um conjunto de ritos assistidos passivamente. E nós não seremos mais do que uma igreja sacramentalista... Ninguém celebra imitando os outros, mas sendo autenticamente. O ideal é termos em nossa comunidade, uma Equipe de Liturgia. Evidentemente que esta equipe deve começar com a piedade e a espiritualidade responsável do Padre.

Antes de ser celebrada, a Liturgia deve ser vivida e para vivemo-la, proponho este Pequeno Estudo.

Fé, vida festiva e Liturgia não se separam. As celebrações de fé são celebrações da vida. Por trás dos gestos, das palavras e dos sinais encontra-se uma concepção de vida, um modo próprio de ser Igreja que, só será autêntico, quando for assumido.

Existem na Igreja muitos ritos para se celebrar o Santo Sacrifício da Missa, os comumente e, penso que equivocadamente denominados “versus Dei” e o “versus Populo” são apenas uns deles, no entanto, este Pequeno Estudo trata apenas da segunda. No entanto, não concordo que se usem estes termos, pois ao usá-los, poderíamos querer dizer que uma das formas é a na qual estamos de frente para Deus. Usar estas expressões é querer, maliciosamente perverter o sentido da Presença de Deus no meio do Seu povo, do Emanuel (Is 7,14; Mt 1,23) e de Jesus mesmo que afirmou que, quando dois ou mais estivessem reunidos eu Seu Nome, ele estaria no meio deles (cf. Mt 18,20) e quando as portas estavam fechadas, Ele entrou “e se colocou no meio deles” (cf, Jo 20,19).

Padre Antonio Piber


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