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A Assunção da Virgem Maria

Por

Padre Antonio Piber

A Assunção da Virgem Maria

A glória da Virgem Maria brilha particularmente no privilegio singular da Sua plena redenção também no corpo, isento, por disposição divina, da comum corrupção; de fato, a Igreja crê que “Maria, terminando o curso da vida terrena, foi levada à glória celeste em corpo e alma”. No entanto, os Padres e a Tradição nunca disseram como isso se deu, sou levado a crer que se deu através da morte e da ressurreição, “como primícias” (1Cor 15,20-27). A gloria celeste é o estado de bem-aventurança no qual se encontra atualmente a Humanidade Santíssima de Jesus Cristo e ao qual chegarão todos os eleitos e todas as eleitas, no fim do mundo. O privilegio da Assunção concedido à Virgem Maria consiste, portanto, no dom da glorificação antecipada integral de seu ser, alma e corpo, à semelhança de Seu Filho, à semelhança da Humanidade Santíssima que Maria lhe deu, em virtude da “força do Espirito Santo” (Lc 1,35: “E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”).

Quando afirmo ou reafirmo que a Virgem Maria “foi levada à gloria celeste”, isto é, foi assunta ao Céu, compreendo que esta expressão designa, por si, uma transladação local de Seu corpo, da terra ao Céu, mas também, e sobretudo, uma passagem da condição da existência terrena à condição de existência própria da bem aventurança celeste. Naturalmente que compreendo “o Céu” não só como um estado, mas também como um lugar: o lugar onde se encontra justamente o Cristo Ressuscitado e Glorioso, em Alma e Corpo e onde se encontra Sua Mãe junto dele. Precisar, além disso, e determinar onde se encontra e em que ordem de relações com o nosso universo visível, é impossível, e mais uma vez nos calamos, jubilosos e respeitosos, diante do Mistério!...

Sobre a vida da Virgem Maria neste Céu, nada temos além do que sabemos, pela Revelação de como será nossa vida futura “Quando o Senhor vier em gloria” (cf. Mt 25,31ss), mas recordamos aqui duas doutrinas marianas, que não sendo, e não precisam ser, dogmas de fé, estão profundamente arraigadas na Liturgia e na devoção: a realeza de Maria e a Sua mediação, como intercessora plena e universal, na distribuição de graças. Maria, no Céu, tem aquele grau de gloria que lhe compete, como Mãe do Verbo Encarnado e como prêmio da Sua vida de graça e a coloca acima de todos os Anjos e Santos e Santas, como Sua Rainha. E no Céu, ela também está sempre na Presença de Deus, para interceder por nós (cf. Hb 9,14). Como Intercessora de todas as graças.

Independente do que alguns decretam como “dogma” ou não, a Igreja de Jesus Cristo, por seus Bispos e pelo povo, ensinando e crendo na Verdade revelada, não em virtude de indagações ou de conhecimentos naturais, mas pela assistência do Espirito Santo, que sopra onde quer (cf. Jo 3,8), a Igreja, por seus Bispos, ensinando, e seu povo fiel crendo, é infalível e se Ela sempre creu nisso, isso é verdade.

Santo Epifânio (+403), nasceu e viveu na Judeia, sendo Bispo de Salamina, propõe-nos três hipóteses sustentadas, segundo ele, “pelos antigos”:

1- A Virgem Maria não morreu, mas foi levada por Deus a um lugar melhor;

2- A Virgem Maria morreu mártir;

3- A virgem Mara morreu de morte natural.

No entanto, ele não escolhe nenhuma, porque “ninguém sabe ao certo o seu fim”, mas ele mesmo afirma que ela teve “um fim glorioso, digno dela”, mas ele não conhece a doutrina da Assunção (Panarion, 78,11-24).

Dos apócrifos, os mais antigos são os sírios e os egípcios (coptas), anteriores ao século V, eles afirmam duas hipóteses: O corpo da Virgem Maria estaria incorrupto, no Paraíso, esperando o Dia da Ressurreição, ou que a Virgem Maria já ressuscitou e foi levada a gloria celeste, para junto de Seu Filho.

Os documentos litúrgicos mais antigos apresentam uma Festa da Assunção, como uma festa genérica, em honra da Teotókos, que se celebrava em Jerusalém, no inicio do século V. Em 613, um Edito do Imperador Mauricio, estende esta Festa a todo o Império, fixando-a para 15 de agosto. No Ocidente esta Festa já era comum no século VI e teria origem na Gália, mas celebrada do dia 18 de janeiro. Na verdade, nestas Festas, se comemorava a morte, em janeiro, e a ressurreição, em agosto. Em Roma a Festa foi introduzida bem mais tarde do que no Oriente, pelo papa Sergio (+701), juntamente com a Festa da Purificação, da Anunciação e da Natividade. Primeiramente se comemorava o transitus, a passagem da Virgem Maria à vida celeste; mais tarde, século IX, se falaria em assunção.

O testemunho das Igrejas nestorianas e monofisitas é válido, devido a sua antiguidade, que parece ser anterior a da Igreja bizantina.

No Ocidente, a indicação clara da Liturgia, com a oração “Venerenda”, do Sacramentário de Gregório (+604), deve-se entender no sentido assuncionista, mas do final do século VII temos o Pseudo-Jerônimo que afirma: “ser melhor deixar tudo a Deus, ao qual nada é impossível, que definir temerariamente por nossa autoridade o que não podemos provar” (P.L. 30,128).

Mas a razão fundamental para se crer na Assunção, é a graça e a dignidade singular com que Deus honrou a Maria: isso exclui de modo absoluto a corrupção de Seu corpo virginal e prova, consequentemente, que Deus lhe pode ter conseguido esta honra. Alem disso, Jesus Cristo que é Onipotente e a Sabedoria de Deus, que tem tudo em comum com o Pai, e por isso pode tudo o que quer e quer tudo o que é justo e digno, deve ter querido a plena glorificação de Sua Mãe.

Creio, por todo o exposto acima, que a doutrina da Assunção em corpo e Alma de Maria aos Céus é seriamente fundada e deve ser aceita com respeito e amor por todos os cristãos. Sendo universalmente pregada, deve ser tida, na Igreja, como uma festa Litúrgica obrigatória que é imprudente, temerário e escandaloso não admitir.

A Assunção de Maria é universalmente crida nas Igrejas de Sucessão Apostólica, por isso é desnecessário defini-la como dogma de fé. Pois não havia na Igreja primitiva uma tradição explicita, nem escrita, nem oral, de origem apostólica, sobre a Assunção da Virgem Maria, mas esta doutrina formou-se pouco a pouco, como consequência da reflexão amorosa da fé cristã, em torno da dignidade da Mãe de Deus; de Sua íntima união espiritual e física com o Filho; de Sua paixão de todo singular na economia divina da Redenção; de Sua santidade perfeita e sua posição única junto ao Filho.

A doutrina da “nova Eva”, de São Justino, Tertuliano e Santo Irineu, nos leva a crer que a Virgem Maria está, no Céu, ao lado de Jesus Cristo, assim como Eva esteve “ao lado” de Adão, no Paraíso terrestre, e para Ela, as leis naturais não valem, pois como Mãe do Senhor, e imagem perfeita do Filho, assim como Eva e Adão foram “imagem e semelhança” (cf. Gn 1,16) de Deus, a Virgem Maria é “imagem” perfeita de Jesus e deve ter gozado da plena glorificação antecipada.

Pessoalmente, como devoto, creio que a Virgem Maria foi elevada ao Céu também para que lá houvesse um coração de mãe, que intercede pela humanidade inteira e particularmente pela Igreja.

A fé dos cristãos e das cristãs sempre manifestou isto. Primeiro de forma espontânea e intuitiva; depois, guiada pelo Magistério, e com o amparo da reflexão teológica, de um modo sempre mais claro e seguro. Mas para julgar bem este desenvolvimento, devemos considerar que ele é o resultado de uma fé sobrenatural, não do desenvolvimento de um conhecimento lógico; a fé, como conhecimento intuitivo superior e uma experiência pessoal e comunitária, é normalmente mais rica de conteúdo do que parece à consciência; e este conhecimento implícito cria uma mentalidade, um espírito de fé, capaz de distinguir com juízo seguro, o que está em harmonia, em conexão lógica, com as verdades explicitamente criadas, com o que não o é (cf. Tomás de Aquino, S Th II-II,1,4, ad 3; 2,3 ad 2; 9,1c.). Enfim, devemos recordar que a causa real e última do que sabemos “das coisas de Deus”, do que nos é revelado, é o Espirito Santo, que, revelando estas coisas aos simples (cf. Mt 11,25) e nos ensinando “todas as coisas” (cf. Jo 14,26), ilumina a inteligência da Igreja, nos fiéis e nos pastores, para compreendermos o conteúdo real da Revelação. E Deus nos dá Seu Conhecimento como e quando quer (cf. Ef 1,17-18).

Acontecido o Pentecoste, a função terrena da Virgem Maria terminava, creio que, em consequência, ela foi elevada aos Céus para lá assumir outra e definitiva função: a de Intercessora, sendo Mãe, começa agora a cuidar de toda a humanidade.

Padre Antonio Piber

Pequeno Estudo Bíblico-Patristico da Virgem Maria

Mision Catolica del Divino Nazareno

Long Beach, CA

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